A Ética Animal (ou Ética Interespécie) é a subárea da Ética que lida com as questões morais envolvidas em nossas relações com os animais não humanos. Tradicionalmente, duas estruturas teóricas tiveram maior influência entre os teóricos que sustentaram que os animais possuem valor moral e devem ser respeitados: o utilitarismo e a deontologia. Seguindo isso, já escrevemos aqui no blog sobre a argumentação (utilitarista) de Peter Singer em defesa da extensão da igualdade moral para animais; assim como a defesa (deontológica) de Tom Regan do valor inerente de todos os sujeitos-de-uma-vida e dos direitos animais. Agora é a vez de tratar da filósofa Cheryl Abbate que propõe uma terceira estrutura teórica para a proteção moral dos animais: a Ética das virtudes.
Para a filósofa, tanto a teoria filosófica de Singer quanto a de Regan possuem problemas frente à realidade não ideal de nosso mundo. Embora ambas as teorias tenham grandes méritos em suas defesas dos animais, elas teriam a falha de presumir que uma regra ou princípio moral universal possa dar conta de todos os problemas morais da nossa realidade imperfeita. De acordo com isso, Cheryl Abbate sustenta a ideia de que a ética não tem a ver com a descoberta de princípios morais capazes de nos orientar em todas as situações, mas sim com as virtudes do sujeito que age diante de um problema moral. Em outras palavras, quando nos encontramos diante de uma questão moral - por exemplo: a de comer ou não um alimento de origem animal - o que mais importa (moralmente) é o caráter e as motivações segundo as quais fazemos essa escolha, as virtudes ou vícios envolvidos. Por isso, se quisermos fazer a coisa certa, devemos buscar agir virtuosamente.
Quando falamos em nossas relações com o restante da natureza animal em um mundo que os explora de muitas e diferentes formas, estamos recheados de questões morais. É correto eu ir a um zoológico onde os animais sofrem distantes de seus hábitats? Praticar a caça como esporte é aceitável? Posso comprar um cosmético que foi testado dolorosamente nos olhos de muitos coelhos ou devo evitar? O que dizer sobre tomar o leite de vacas que foram separadas de seus filhotes tão logo nasceram? É moralmente aceitável que um grande empresário lucre com a morte de milhões de animais? É um fato sem importância moral o de que centenas de bilhões de animais sejam mortos anualmente para consumo humano?
Diante de todas essas questões, a sugestão da filósofa Cheryl Abbate é que devemos agir baseados sobretudo nas virtudes da compaixão e da justiça.
As atuais indústrias de exploração animal reproduzem sofrimento e morte de animais em níveis sem precedentes na história. Frente a isso, uma pessoa compassiva não pode se demonstrar indiferente, pois a compaixão envolve a aceitação do princípio de que não devemos causar sofrimento e mortes desnecessárias. Assim, se podemos optar por outras fontes de alimentos, devemos fazê-lo. Do mesmo modo, devemos nos opor às demais formas de exploração animal.
Um mundo melhor, em que as pessoas ajam de maneira mais compassiva e as instituições promovam a justiça não pode ser construído sobre o massacre de animais. E é por tudo isso que a ética das virtudes aponta para o veganismo. Embora o veganismo individual não seja suficiente para alcançar esse mundo (pois é preciso mudar as estruturas da sociedade), ele é parte necessária dessa construção.
A filósofa Cheryl Abbate e uma citação.
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