Um blog sobre as bases filosóficas do veganismo

sábado, 18 de janeiro de 2020

Como sabemos que as plantas não sofrem? Respondendo objeções #4

Texto do filósofo Peter Singer responde a questão: como sabemos que as plantas não sofrem?

Por Peter Singer


Alguém poderia perguntar: “Como sabemos que as plantas não sofrem?”
Essa objeção demonstra uma preocupação genuína com o mundo vegetal. Aqueles que a levantam, porém, não levam em conta seriamente a ampliação de nossa consideração [moral] para as plantas, caso se comprove que elas sofram. Ao contrário, esperam mostrar que, se tivéssemos de agir de acordo com o princípio que defendi [o princípio da igual consideração de interesses], precisaríamos parar de comer também os vegetais - e, portanto, morreríamos de fome. A conclusão a que chegam é que, se é impossível viver sem violar o princípio da igual consideração, não devemos nos preocupar com isso. Podemos continuar comendo plantas e animais.

A objeção é fraca, tanto factual quanto logicamente. Não há evidências confiáveis de que os vegetais sejam capazes de sentir prazer e dor. Alguns anos atrás, no livro A vida secreta das plantas, o autor afirmou que elas têm capacidades incríveis, inclusive a de ler a mente das pessoas. As experiências mais admiráveis citadas no livro não foram realizadas em institutos sérios, e as tentativas de pesquisadores das principais universidades, de repetir essas experiências, não chegaram a resultados positivos. As alegações da obra foram completamente desacreditadas.

No primeiro capítulo deste livro [Libertação animal] apresentei três razões distintas para mostrar que os animais sentem dor: o comportamento, a natureza de seu sistema nervoso e a utilidade evolucionária da dor. Nenhumas delas sustenta a crença de que as plantas experimentam o sofrimento. Não há descobertas experimentais cientificamente plausíveis - nenhum comportamento observável que sugira dor, nem a presença, nelas, de algo que se pareça com um sistema nervoso. É difícil imaginar um motivo pelo qual espécies que não conseguem se afastar de uma fonte de padecimento, ou de usar a percepção da dor para evitar a morte, tenham desenvolvido a capacidade de sofrer. Portanto, a crença de que as plantas sentem dor parece completamente injustificada.

Meu argumento, até aqui, referiu-se à parte factual dessa objeção. Vejamos, agora, sua lógica. Suponhamos que, por mais improvável que pareça, os pesquisadores consigam encontrar indícios de que as plantas sofrem. Dessa premissa não se segue que os carnívoros devem manter sua dieta habitual. Se precisássemos escolher entre infligir dor ou passar fome, teríamos de optar pelo mal menor. Considerando que as plantas padecem menos do que os animais, ingeri-las seria o “mal menor”. Mas vejamos a questão por outro lado. Digamos que as plantas sejam tão sensíveis como os animais. Nem assim o ponto de vista dos carnívoros teria lógica. Isso porque, ao ingerir carne, também são responsáveis, ainda que indiretamente, pela destruição de, no mínimo, dez vezes mais plantas do que os vegetarianos! A essa altura, admito, o argumento se torna ridículo. Eu só o desenvolvi para mostrar como aqueles que levantam essa objeção, sem considerar suas implicações, estão, na verdade, procurando um pretexto para continuar a comer carne.


SAIBA MAIS
O texto acima foi retirado da obra Libertação animal, do filósofo Peter Singer. O livro completo está disponível em nossa biblioteca virtual. Para acessá-la, clique aqui.
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